quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Alta Costura


  Alta Costura ou melhor, Haute Couture (em francês),  é o artesanato de luxo que veste mulheres da elite, por causa dos altos preços de seus tecidos, pedrarias e metais preciosos. As clientes são geralmente esposas, filhas ou outras parentes de grandes homens de negócios, políticos ou membros das altas cúpulas do Estado. Em geral famílias socialmente mais ativas que mantém um calendário mais repletos de festas, viagens, recepções e cerimônias.
  Começou a existir em países onde houveram nobreza de tradição e vida de côrte, que costumavam definir os termos de refinamento, de maneiras e de exclusividade social. 
  As roupas do segmento de Alta Costura ou de Prêt-à-Porter (pronto a vestir) de luxo, têm como função, vestir de forma apropriada em determinadas ocasiões, promovendo a mulher, passando uma imagem elegante ou sensual demonstrando sua classe e bom gosto, como também o conhecimento de que está na moda. Essas roupas são feitas para ocasiões especiais como casamentos, bailes de formatura, cerimônias, recepções e outros eventos em que seja solicitado um traje a rigor, agregado a um valor de luxo e elegância na forma de vestir.
  O vestuário é uma espécie de classificador de indivíduos, capaz de mostrar sua classe social, grupo ou mesmo estado de espírito. Segundo Durand, “as roupas são  meios de comunicação; estamos transmitindo mensagens a todo  tempo  através da  aparência do nosso corpo vestido". Podemos acrescentar também, características particulares que se destacam e influenciam a vestimenta como o clima, a ocasião e  necessidade, o conforto, a identificação pessoal e opinião, a crença ou religião, a cultura e até mesmo o poder aquisitivo.
   Ao longo de toda história, desde o antigo Egito (onde o Faraó usava pedras preciosas ostentadas em seus trajes de cor lápis-lazúli, a nobreza usava trajes com mais tecidos e os escravos se apresentavam quase sem roupa), as sociedades lidam com certos tipos de proibições impostas por seus líderes. Uma delas é a "Lei Suntuária". Segundo o Dicionário Jurídico da O.A.B., "Lei que, em caráter excepcional, o governo promulga em época de crise, para restringir o luxo e os gastos imoderados". 
  Tradicionalmente, é uma lei que regulava e reforçava as hierarquias sociais e os valores morais através de restrições quanto ao gasto com roupa, alimento e bens de luxo. Na maioria das épocas e lugares, foram ineficazes, tentavam regular a balança comercial ao limitar o mercado de bens importados e caros, mas também eram um jeito fácil de identificar o nível social e privilégios, sendo frequentemente usadas para fins de discriminação social, sendo a primeira delas escrita na Grécia antiga.

  Com a Revolução Francesa (1789–1799),  derrubaram-se as Leis Suntuárias, onde a monarquia perde o direito absoluto de usar determinadas cores e tecidos.  A  Alta Costura começa portanto a dar os primeiros sinais de vida mas ainda sem ser nomeada, permitindo também a mulheres da alta burguesia (que acabavam por se misturar com a nobreza através do casamento, frequentando os mesmos lugares e até os mesmos costureiros), serem incluídas. Também se vestiram e se vestem ainda com todo o requinte, mulheres que circulam na alta sociedade sem o respaldo familiar, fazendo valer socialmente o encanto de um belo rosto ou de um corpo atraente. Conhecidas como “Cocottes”, amantes de um ou mais homens poderosos, cuja riqueza e poder, exprimiam em um visual de alto impacto e poder de sedução. 
  
  Após a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra (Reino Unido), no século XVIII, o capitalismo torna-se o sistema vigente, o trem e o barco a vapor facilitaram viajar por toda a Europa, tornou-se cada vez mais comum às mulheres ricas irem a Paris, afim de comprarem roupas e acessórios. Ao que consta, essa liderança de França sobre a moda é proveniente de sua côrte desde o final deste mesmo século, quando a arte, arquitetura, música e a moda no “Château de Versailles” (Palácio de Versalhes) eram imitadas por toda Europa. As pessoas visitavam Paris e levavam consigo roupas, trajes e vestimentas a serem copiadas por seus costureiros locais, assim, os franceses foram considerados os melhores em toda Europa, as clientes chegavam até a encomendarem bonecas vestidas para servirem de modelos. A indumentária dos poderosos do passado chegou aos nossos dias por intermedio da pintura, esta sim, considerada a arte maior, onde o autor assina o que faz.
  No século XIX as senhoras dos clãs tendiam a usar roupas mais discretas, chamado luxo distinto. Atrizes e cocottes eram as “cobaias dos laboratórios” da Alta Costura de vanguarda, aquelas clientes que mais permitiam ao costureiro soltar a imaginação, afinal de contas, sua existência social dependia de se fazerem notar, e daí, sua preferência por roupas mais chamativas.
  A denominação Alta Costura é juridicamente protegida e dela só podem utilizar as empresas que figuram em uma lista estabelecida a cada ano por uma comissão de ministros. É restrito a um número controladíssimo de profissionais, que são regidos pela Chambre Syndical de la Haute Couture (Câmara Sindical da Alta Costura, que existe desde 1868), que por sua vez, é parte da Fédération Française de la Couture, du Prêt-à-Porter e des Créateurs de Mode (Federação Francesa da Costura, do Pronto para Vestir e dos Criadores de Moda). 
 “A Alta Costura é uma patente, um patrimônio cultural parisiense, e só podem intitular-se assim  as Maisons (casas) que respeitam uma série de normas, entre  elas, possuir  sede em uma região específica de Paris”, complementa João Braga, professor de História da Moda. Todavia, o termo também é usado para descrever toda a produção dos grandes costureiros, seja ela produzida em Paris ou em outras capitais da moda, tais como Milão, Tóquio, Nova York, Roma e Londres.


Originalmente, o termo foi aplicado ao trabalho realizado pela Maison de Charles Frederick Worth (1825–1895), um inglês que produziu em Paris, em 1858, o primeiro desfile de moda conhecido (além disso, usando modelos, em vez de cabides... Outra  novidade na época), ele também criou o conceito de coleções, lançando sucessivamente novas linhas, promovendo a mudança nas tendências e a valorização do novo. El couturier (o costureiro) e vendedor de tecidos inglês, Charles Frederick Worth, foi considerado o pai do que se conhece hoje por "Alta Costura". Nasceu em Bourne, Lincolnshire, Inglaterra e deixou sua pegada na indústria da moda francesa ao revolucionar a forma com que era vista a indústria de vestir. Worth, criou a figura do desenhista de moda. Seguindo seus passos estiveram Callot Soeurs, Patou, Poiret, Vionnet, Fortuny, Lanvin, Chanel, Mainbocher, Schiaparelli, Balenciaga, Dior e alguns outros. 
  Até meados do século passado, as roupas femininas eram feitas por artesãos, simples executantes, conformados em satisfazer as idéias, preferências ou caprichosos de suas senhoras e clientes. Worth por sua vez, começou a mudar essa ideia impondo sua experiência e conhecimento de tecidos, aliado a ousadia e seu extremo bom gosto.
  Nos anos 60, um grupo de jovens desenhistas e aprendizes de costureiros, deixaram as antigas casas onde trabalhavam, para abrirem seus próprios estabelecimentos. Dentre eles, assim como Dior e Balenciaga, os que mais tiveram êxito foram, Yves Saint Laurent, Pierre Cardin, André Courrèges e Emanuel Ungaro. Hanae Mori, uma japonesa radicada em Paris, também conheceu o sucesso ao criar sua própria linha. Lacroix é talvez a casa de moda que mais teve êxito dentre todas que abriram no final do século XX. Outras delas, podemos citar  Jean-Paul Gaultier e Thierry Mugler. Também nesta década, um agito tumultuou as normas da moda, artistas de rock, atrizes e os hippies, deram  margem a internacionalização da moda. As viagens aéreas, trouxeram ao público alvo, a facilidade de poderem comprar roupas da mesma forma e qualidade tanto em Nova York como Paris. As mulheres ricas não sentiam mais que a moda de Paris era necessariamente melhor do que outras partes.  Assim, apesar de Paris ainda ser importante no mundo da moda, deixara de ser seu único árbitro.
  No caso da alta costura, um dos maiores objetivos é dar a maior visibilidade possível a Paris como a capital mundial da moda. E para isso, vários esforços e um plano de ação vem sendo implementado, com apoio governamental, em meio a um espaço altamente competitivo.
Para a economia francesa, não é prioritariamente importante a venda dos produtos em si, mas sim, da imagem do país e da capital, que gera uma infinidade de negócios paralelos aliados a fama de "elegância com criatividade". Acessórios e cosméticos, como bolsas, sapatos, bijuterias, perfumes e maquiagem, são o que dão sustentabilidade a esse negócio.
As roupas desfiladas, se do agrado da clientela, são reproduzidas sob medida e com número restrito de exemplares a preços exorbitantes. Mas, a grande sacada da alta costura, ainda é ser incompreendida pelo grande público. Via de regra, são nestes desfiles que aparecem os resultados das pesquisas de laboratório, de novas fibras, texturas, acabamentos e garantem a sobrevivência de um grupo de artesãos, altamente qualificados, para fazer o contraponto com a produção massificada e industrializada. São nestes desfiles que a chama do desejo de um produto quase inatingível se renova.
  A Federação de Moda Francesa, para não ver o seu espaço minguar na mídia, já há algumas temporadas tem recebido "membros corrrespondentes" de outra praças, como Valentino e Giorgio Armani, ambos de Itália. Mas os holofotes, até agora, foram para um outro nome: Elie Saab, do Líbano. Em seu atelier (oficina) em Beirute, são produzidos vestidos para princesas dos Emirados Árabes. Uma de suas mais famosas clientes é a elegante Rainha Rânia da Jordânia, além é claro, de nomes estrelados como Catherine Zeta-Jones, Beyoncé e Halle Berry. Por outro lado, a alta costura tem no Oriente Médio uma clientela cativa e contiua a conquistar olhares adimirados e o fascínio de todos por todo o mundo.

“A Alta Costura é composta de segredos cochichados de geração a geração” Yves Saint-Laurent.

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